terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Uma pitada de samba e um bocado de histórias

Episódio de hoje:

O negro, o mestiço e o mulato – Os primeiros passos da identidade brasileira.

A Semana de Arte Moderna de 1922 reuniu  escritores, pintores, músicos e intelectuais em defesa da cultura brasileira



No final do século XIX, intelectuais brasileiros debatiam sobre a identidade nacional e o atraso brasileiro com relação à Europa. A pergunta era: O que fazia o Brasil ser pior do que a Europa? A resposta mais sensata pareceu ser a mestiçagem, que foi usada como bode expiatório. Os intelectuais da virada do século XIX para o século XX olhavam com desprezo para as manifestações culturais. Essa desvalorização daquilo que era brasileiro perdurou por muito tempo, até surgirem os modernistas que defendiam o mulato e o mestiço como a raça genuinamente brasileira.

A valorização do que é nacional foi a principal pauta da Semana de Arte Moderna de 1922, ocorrida em São Paulo. Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Plínio Salgado, Heitor Villa-Lobos, Menotti Del Pichia, entre outros modernistas, participaram do movimento que visava romper com a vanguarda europeia, valorizando a cultura brasileira.

                                                   Gilberto Freyre



Mas a reviravolta começou mesmo com Gilberto Freyre, que valorizava o caráter positivo do negro e do mestiço, definindo o povo brasileiro como uma combinação harmoniosa e conflituosa de traços africanos, indígenas e portugueses. Freyre mostrou que a cultura mestiça não era a causa do atraso do país, mas sim algo que deveria ser cuidadosamente preservado, pois era a identidade e a especificidade do país diante das outras nações.
Os modernistas que valorizavam a cultura nacional, eram os mesmos presentes nas reuniões, como as citadas no capítulo anterior, que ocorriam desde o século XVIII. Eram membros da elite, políticos, intelectuais e músicos. Eles discutiam temas culturais e, faziam inclusive, saraus musicais. Uma dessas reuniões está relatada no livro O Mistério do Samba, de Hermano Vianna, no qual ele descreve o encontro de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Prudente de Moraes Neto, Heitor Villa-Lobos e outros intelectuais da época com Pixinguinha, Donga e Patrício Teixeira, no ano de 1926. Gilberto Freyre publicou em seu diário, que mais tarde seria parte do livro Tempo morto e outros tempos, um trecho no qual se refere a este encontro.

Sérgio e Prudente conhecem de fato literatura inglesa e moderna, além da francesa. Ótimos. Com estes saí de noite boemiamente. Também com Villa-Lobos e Gallet. Fomos juntos a uma noitada de violão, com alguma cachaça com os brasileiríssimos Pixinguinha, Patrício, Donga (Vianna, 1995: 19).


Encontros como estes não eram novidades, mas foram destas reuniões que partiram os primeiros passos para a valorização das coisas brasileiras, a começar pela nossa raça e nossa música, ou seja, aquilo que nasceu nas terras tupiniquins: o mestiço e o samba. Outros personagens importantes como Afonso Arinos, Lima Barreto e Graça Aranha participaram do movimento de valorização daquilo que era brasileiro, inclusive nomes internacionais tiveram importante participação, caso do poeta francês Blaise Cendrars e do compositor suíço Darius Milhaud.


Veja o episódio 1 em Os primeiros passos do Samba

Veja o episódio 2 em Tia Ciata



 

2 comentários:

  1. Rodrigo gostei bastante deste artigo. parece-me historiograficamente correto kkkk. qdo olhei o link no perfil do Carlos fiquei meio desconfiada, mas vc se saiu muito bem ^_^ falou dos debates raciais do XIX e XX muito bem.

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  2. Todos estes capítulos que estou postanto fazem parte da minha monografia da faculdade de jornalismo. Eu estudei o tema para falar dele, e sem Google! :)

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